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segunda-feira, 11 de maio de 2020

[Resenha] Não Conte Para a Mamãe

Título: Não Conte Para a Mamãe
Autora: Toni Maguire
N° de Páginas: 308
Editora: Bertrand Brasil
Classificação: 5/5
A frase que dá título ao livro de Toni Maguire, Não conte para a mamãe, poderia ser uma pacto ingênuo entre dois irmãos ou uma brincadeira entre crianças. Infelizmente, não é o caso. Na verdade, é a ameaça sofrida pela autora durante os quase dez anos em que foi violentada pelo próprio pai. Quando aconteceu pela primeira vez, a pequena e inocente Antoinette tinha apenas seis anos. Apesar da tenra idade, tudo ficou gravado em sua memória, o tempo nada dissipou: os detalhes, os sentimentos, a dor. Foi a primeira de muitas, incontáveis vezes. Não conte para a mamãe, de Toni Maguire, desvela a comovente história de uma infância idílica que mascarava uma terrível verdade.
Toni já está crescida e agora cuida de sua mãe em um leito de hospital, pois a mesma se encontra em  estado terminal. Os dias passam e Toni tenta manter em silencio e escondido as memórias de sua infância, que agora insistem em voltar. Mas Antoniette está de volta, e começa a narrar sua dolorosa história.
"Uma voz de criança infiltrou-se em minhas lembranças, até que os sons tornaram-se palavras sussurradas em meu ouvido."
"Fechei os olhos ao ouvir a voz e desejei que silenciasse"
 "Eu sabia que Antoinette havia despertado, e não seria capaz de força-la a retornar aos anos de dormência em que a isolara. Fechei os olhos e permiti que seu sussurro penetrasse minha mete, quando ela começou a nossa história."
Antoinette é uma garotinha inocente como qualquer criança da sua idade. Vive com sua mãe, uma convivência regada à carinhos e atenção. Seu pai serve ao exército e sua presença em casa acontece pouco, até que chega o dia, o dia que ele volta para ficar definitivamente com a família, mudando literalmente e lentamente a vida da pequena Antoinette.
A família resolve se mudar para outra cidade, ficando mais próximo dos familiares de seu pai, e dias difíceis virão. Os dias passam, e seu pai começa a ter mudanças de humor frequentemente, deixando Antoinette apreensiva e temendo aquele novo pai que estava se apresentando.

- Antoinette, onde você está? 
Virei-me e corri confiante na direção dele, segurando firme meu ramalhete de flores silvestres. Mas o homem que vi aproximando-se não era o belo pai sorridente que nos encontrara no barco. Em vez dele, vinha um homem carrancudo, de rosto vermelho, que eu mal reconheci, um homem que de repente pareceu enorme, com olhos injetados de sangue e a boca tremendo de raiva.

Após o ocorrido, Antoinette agora sabe, deve temer aquele homem. Esse foi o primeiro sinal de que tudo mudaria para pior, um dia pior que o outro, pois Antoinette começa a ser alvo da ira do pai, que começa com agressões físicas e castigos. 
Sua mãe que sempre lhe deu carinho e atenção, agora começa a mudar, e suas atitudes para a pequena filha só piora ao passar das páginas. Depois de um tempo, depois que os primeiros sinais apareceram e ninguém fez nada, o inevitável acontece, o primeiro de muitos abusos sexuais.
"As palavras que seguiram estavam destinadas a se tornarem o refrão dele: -Não vá contar para a mamãe minha menina. Isso é nosso segredo. Se contar, ela não acreditar em você. Ela não vai mais amar você. - Eu já sabia que isso era verdade."
Durante muitos anos, Antoinette é violentada sexualmente, fisicamente e mentalmente pelo próprio pai, aquele que deveria ser seu protetor, e tudo acontece debaixo dos olhos da sua mãe. Uma mãe que não ouviu seu pedido de socorro, que preferiu fechar os olhos diante da situação, zelando por uma imagem falsa de uma família feliz.

Foi com certeza a resenha mais difícil  até hoje. Chorei horrores e sentir todos os sentimentos possíveis ao mesmo tempo, raiva, nojo, compaixão, ódio entre outros. Em alguns momentos desejei nunca ter pego este livro para ler, e a vontade de gritar com aquele homem e socar ele, só aumentava a cada página. Tive uma vontade enorme de pegar Antoinette no colo e dizer à ela, que não era sua culpa, que ela não estava sozinha.
Definitivamente eu não estava preparada para todo os sentimentos que agora sinto, e Termino dizendo que é preciso muita coragem para ler este livro, é preciso muita, mas muita coragem mesmo, para conhecer a história dolorosa e marcante da autora. Você precisa ter estômago e um coração ainda mais forte, pois os relatos são cruéis e a leitura muito difícil. Um choque de realidade!

As cinco estrelas vão para a coragem da Autora Toni Maguire, a protagonista dessa história forte, marcante e tão dolorosa.

Um trecho para acabar com qualquer coração:
Ele forçou a língua pelos meus lábios. Senti a saliva escorrer pelo meu queixo, e o cheiro de uísque rançoso e o bafo de cigarro entraram em minhas narinas. Minha sensação de segurança abandonou-me para sempre, substituída por repulsa e medo.
- Não conte para a mamãe – disse ele, dando-me uma breve sacudida – Isso é um segredo nosso, Antoinette, você me ouviu?
- Está bem, papai – respondi. – Não vou contar.
Mas contei. Eu sentia Segurança no amor de minha mãe. Eu a amava, e ela, eu sabia, me amava.
Ela o mandaria parar.
Mas não mandou.

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